"A Anunciação", por Giotto - Capela degli Scrovegni, Pádua (Itália) |
"Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se,
apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e
cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a
criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito
é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor
me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a
criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que
acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu'" (Lc 1,
39-45).
Ao
ouvir a voz da Mãe de Deus, São João Batista foi imediatamente
purificado do pecado original. Tal prodígio prenunciava as grandes
transformações reservadas aos que, ao longo da História, seriam objeto
da maternal intercessão de Maria.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I - O olhar humano e o olhar da fé
Ensina o Apóstolo que "o justo viverá
pela fé" (Gal 3, 11). Esta afirmação ressalta a natural insuficiência de
nossa razão para atingir, por si mesma, determinadas verdades da
Religião Católica. Quando a inteligência se dissocia de Deus, perde a
capacidade de apreender o que a realidade possui de mais essencial: a
presença d'Ele na alma e em todo o universo criado. Basta recordarmos o
testemunho de Santo Agostinho que, após percorrer em vão o mundo do
pensamento à procura do sentido de sua existência, exclamou: "Tu estavas
dentro de mim, mais interior que o meu próprio íntimo e mais elevado
que o ápice do meu ser".1 Ora, esse conhecimento foi-lhe dado pela fé,
pois a vista humana não alcança a Deus diretamente.2
De igual forma, quando analisamos as
Sagradas Escrituras não é possível acompanhá-las com a pura
inteligência. Esta fica aquém da amplitude sobrenatural dos episódios da
História Sagrada, de modo especial dos Evangelhos, e a partir de certo
limite deve se abrir para as inspirações do Espírito Santo a fim de
penetrar em seu sentido divino. Cabe-nos meditar tais fatos enquanto
acontecimentos movidos pela ação direta e eficaz do Criador.
Contemplemos, por esse prisma, a singela
narrativa do mistério da Visitação recolhida pelo Evangelho deste 4º
Domingo do Advento. Trata-se de uma dama que empreende viagem para
visitar sua prima que em breve seria mãe, a fim de oferecer-lhe seus
serviços. Ambas se encontram e manifestam mútuo afeto. Simples cena,
descrita sob os véus de um mero acontecimento familiar, mas que abarca
uma profundidade insondável, digna de análise e, sobretudo, de
meditação.
II - A santidade, um bem expansivo
Após o relato da aparição do Anjo a
Zacarias, feito por São Lucas em um diálogo de poucos versículos (cf. Lc
1, 11-20), o Evangelista detalha que "o povo estava esperando [...] e
admirava-se de ele se demorar tanto tempo no santuário" (Lc 1, 21). Tal
pormenor revela que a conversa deve ter sido mais extensa do que as
breves frases registradas pelo texto sagrado. Se assim aconteceu nessa
aparição, que pensar da sucinta narração do encontro de São Gabriel com a
Virgem Santíssima (cf. Lc 1, 26-38)? Podemos supor que o colóquio não
tenha sido tão curto e, por humildade, Maria tenha desejado que ficasse
consignado tão só o necessário para a boa compreensão da embaixada vinda
do Céu. Consideremos o quanto a oportunidade de discorrer com Ela terá
sido um privilégio para o celestial mensageiro, e como terá ele desejado
valer-se da circunstância, tirando o máximo proveito. Da parte d'Ela,
quantos pensamentos elevados não terá exposto a São Gabriel. Quiçá, até
deve ter-lhe pedido conselhos. A grande perfeição da natureza espiritual
do Anjo, acrescida da proximidade com Deus, certamente inspirava em
Nossa Senhora uma santa afinidade com o mundo angélico.
"A Anunciação", por Fra Angélico - Museu de São Marcos, Florença (Itália) |
Entre os temas desse colóquio, podemos
supor que Ela tenha incluído o da conveniência de visitar sua prima
Santa Isabel, que esperava um filho havia seis meses, como Lhe
comunicara o Anjo. Maria se apressou em manifestar sua disponibilidade
de ir até ela - que, como veremos, era toda fundada em razões
sobrenaturais -, embora fosse provável que antes disso tenha passado
certo período em recolhimento, devido ao extraordinário influxo de
graças então recebido. Ela não Se julgou desobrigada do dever de
dedicar-Se ao próximo, inclinando-Se, com prontidão, a cumprir o
caridoso desígnio. É o que narra o Evangelista.
A ação eficaz nasce da contemplação
"Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia".
Após dar seu livre consentimento e
tornar efetiva a Encarnação por um ato de máxima fidelidade à vontade de
Deus (cf. Lc 1, 38), Nossa Senhora não abandonou a vida em sociedade,
como o demonstra a visita que fez à sua prima. Quem, ao saber que está
gestando o próprio Filho de Deus, tornando-se Mãe da Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade, pensaria numa prima? Uma alma egoísta, após ter
recebido a embaixada do Anjo, quereria abraçar uma mal-entendida vida de
contemplação, a fim de beneficiar-se das vantagens dessa prerrogativa e
gozar das consolações do convívio com o Menino Jesus. Maria fez o
oposto: pôs-se a caminho logo, "naqueles dias", pois os inocentes se
interessam mais pelos outros do que por si próprios.
Jerusalém situava-se no alto de uma
montanha de aproximadamente 800 metros de altitude e a cidade onde vivia
Zacarias - Ain Karim, segundo uma antiga tradição - ficava num vale, a
sete quilômetros ao sudoeste da Cidade Santa. Já Nazaré localizava- se a
uma boa distância - cerca de 130 km -, a qual, para ser percorrida,
levava de três a cinco dias de viagem, por um caminho penoso e solitário
através dos vales da Samaria e das regiões montanhosas da Judeia.3
Nossa Senhora transpôs com ânimo resoluto tais obstáculos para chegar ao
vilarejo. Contudo, estaríamos longe de compreender sua impostação de
espírito neste trajeto, se não relacionássemos a presteza com que
realizou o percurso à sua intensa vida interior.
Sendo uma alma meditativa, imbuída de
forte espírito de oração, Ela nos mostra que a boa contemplação redunda
na ação bem feita, dá glória a Deus e edifica o próximo. Devemos nos
compenetrar de que os espíritos fervorosos são aqueles que exercem sua
missão com maior êxito, porque agem ao sopro do Espírito Santo. Nesse
caso, Maria "é impulsionada por um movimento divino, pelo Verbo que traz
em seu seio. Este divino fardo, longe de atrasá-La, A eleva, A faz
voar, A transporta para o alto das montanhas".4
A pressa, manifestação de fervor
Cumpre ressaltar outro aspecto
relacionado com uma palavra do Evangelista: "apressadamente". Por que
teve Ela o desejo de partir o quanto antes a fim de estar com a prima?
Após a Anunciação, a Virgem Santíssima foi favorecida com nova plenitude
do Espírito Santo e estava exultante de alegria. Como o bem é
difusivo,5 Nossa Senhora, que não tinha nenhum resquício de pecado e
n'Ela tudo era santidade e virtude, logo desejou partilhar os tesouros
recebidos. Com São José não tinha a possibilidade de Se expandir, pois
os fatos posteriores nos indicam que a Providência agiu com ele de
maneira diversa, exigindo-lhe grande confiança em meio a acontecimentos
que apenas aos poucos lhe foram sendo esclarecidos. Por isso Ela
preferiu deixar nas mãos de Deus qualquer comunicação a ser feita ao
esposo. No entanto, como o Anjo havia dito que Santa Isabel já estava no
sexto mês de uma concepção miraculosa, Maria julgou ser a ocasião ideal
para se encontrar com ela, intuindo, também, não haver junto à prima
quem a ajudasse adequadamente.
"Nossa Senhora a caminho da casa da sua prima Isabel" - Basílica da Visitação, Ain Karim (Israel) |
Ela partiu logo, pois a vida
sobrenatural não comporta delongas, preguiça nem desvios. É preciso
observar que o fato de estar apressada não significa estar perturbada
por qualquer agitação, já que Ela ia, sem dúvida, com todo equilíbrio e
calma interior. A pressa vinha do anseio de comunicar as maravilhas que
levava em Si, e ainda que tivesse toda a disponibilidade para auxiliar
também nas necessidades práticas, essa não era a razão mais importante. A
consideração pela prima dava-Lhe a certeza de não haver ninguém melhor
para ser sua interlocutora, uma vez que Isabel "estava de certo modo
envolvida nos mistérios da Redenção".6 E por amor ao Divino Filho que
engendrava, lançou-Se logo pelos caminhos, como comenta Santo Ambrósio:
"Pressurosa por causa do gáudio, dirigiu-se à montanha. Estando cheia de
Deus, poderia não elevar-se até às alturas? Os cálculos lentos são
alheios à graça do Espírito Santo".7
Além disso, houve um motivo mais
significativo que determinou a viagem, relacionado com a pessoa e a
missão de São João Batista. Por revelação do Anjo, sem dúvida a Virgem
Santíssima sabia que o filho que Santa Isabel estava para dar à luz era o
Precursor e, por esta razão, tinha certeza de que ele estava associado
de maneira particular ao plano da salvação. Ora, Ela queria colaborar
para que a glória de seu Divino Filho fosse a maior possível, num desejo
correspondente ao elevado grau de perfeição e santidade de sua alma.
Por tal motivo, correu com o intuito de santificar o quanto antes o
Precursor, pois a ideia de que este varão pudesse nascer tisnado pelo
pecado contundia seus anseios.
Nossa Senhora foi apressadamente, então,
para transmitir com exclusividade a Boa-nova a Santa Isabel e a São
João Batista, tornando-Se a primeira Arauto do Evangelho da História.
Nesse sentido ressalta Monsabré: "Ela não teme nem as dificuldades nem
as fadigas da viagem, pois porta a graça de Deus, e a graça é um dom tão
grande que devemos estar dispostos a todos os sacrifícios para levá-lo
àqueles a quem está destinado".8
Os efeitos de uma visita de Maria
"Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel
ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou
cheia do Espírito Santo".
Quanto gostaríamos de saber como Maria
cumprimentou Isabel nessa ocasião! São Lucas, porém, não registrou tal
pormenor. Tudo indica que Ela, em sua suprema humildade, chegou com
discrição, sem chamar a atenção sobre Si. Ao ver a prima, saudou-a,
chamando-a pelo nome, e o Espírito Santo agiu de maneira sensível. Deus é
tão delicado - é a própria Delicadeza - que, ao se aproximarem as duas
almas eleitas, inundou Santa Isabel de graças, comunicando-lhe que a
plenitude dos tempos havia chegado e o Messias estava ali presente no
seio virginal de Nossa Senhora. Esta, por sua vez, deu-Se conta de não
ser necessário explicar nada à prima.
Bem podemos imaginar a unção e o poder
da voz da Mãe de Deus em função de seus frutos. Qualquer música da
Terra, por mais bela e perfeita que seja, não pode ser-lhe comparada.
Aquela voz tem força e penetração e é extraordinariamente eficaz! Ao
dizer Isabel, Maria o fez com tanto amor que a entonação era carregada
de sentido sobrenatural, doçura e sublimidade, pois "a boca fala do que
transborda do coração" (Mt 12, 34).
Sinal disto é o fato de São João Batista
ter saltado no ventre de Santa Isabel. A tradição teológica reconhece
ter sido nesse momento que o pecado original foi extirpado do menino,
tal como se ele houvesse sido batizado.9 Embora uma criança com seis
meses de gestação ainda não tenha capacidade de compreender, ele foi
objeto de um altíssimo fenômeno místico que, segundo afirmam certos
autores, deu-lhe um lampejo de conhecimento racional; contudo, parece
mais conforme à fé que a vida divina, existente em Maria em plenitude e
superabundância,10 lhe tenha sido transmitida pelo timbre daquela voz
virginal e santificadora: a graça penetrou nele e deu-se um verdadeiro
Batismo, o qual lhe infundiu as virtudes e os dons, enchendo-o do
Espírito Santo.
"A Visitação" - Igreja de São Tiago o Menor, Liège (Bélgica) |
"O mistério da Visitação foi uma imensa
efusão de graças. A graça se esparge sobre o Precursor, santifica-lhe a
vida, ilumina-lhe a inteligência, inaugura-lhe e consagra-lhe a
carreira, pois esse estremecimento era precisamente a claríssima
indicação da presença do Verbo".11 No instante da purificação de São
João Batista, Santa Isabel foi arrebatada pelo Espírito Santo. Através
de quem lhe veio esta graça? Qual foi o caminho escolhido pelo Divino
Paráclito para cumulá-la de tais benefícios? Serviu-Se do que
transbordava de sua Esposa, que era mais do que suficiente para elevar
Isabel ao auge da perfeição. Maria, ao longo de toda a sua vida, sempre
esteve ornada de um extraordinário influxo de graças, o qual recebeu um
constante aumento até o instante de sua partida para a eternidade.
Conhecer o efeito da voz da Santíssima
Virgem constitui, portanto, um magnífico ensinamento para nós. Se as
águas foram escolhidas por Deus para a instituição do Batismo e, como
sinal sacramental após a invocação do Espírito Santo, têm o poder de
lavar o pecado, quão mais poderosa é a voz de Maria, a ponto de
santificar São João no ventre materno! Ela ainda não fora coroada Rainha
dos Céus e da Terra e, entretanto, já atuava como Intercessora. Bastou
sua voz e seu desejo para a criança ficar limpa do pecado original,
dando um salto de alegria.
Vemos, pois, como toda transformação ou
progresso espiritual é possível quando Nossa Senhora toma a iniciativa
de Se debruçar sobre uma alma. Como ensina São Tomás, o amor que desce é
eficaz 12 e, vindo de Deus e de Nossa Senhora, santifica. Nesse
sentido, portanto, observamos uma relevante verdade: em relação aos
superiores na linha do espírito, mais importante é ser amado do que
amar.
Louvores de uma alma cheia do Espírito Santo
"Com um grande grito exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!'"
A expressividade de Santa Isabel deve
ser considerada como a reação de uma alma tomada pelo Espírito Santo.
Seus gestos e suas palavras são dignos de apreciação. O texto afirma que
a prima de Nossa Senhora prorrompeu num "grande grito", proclamando com
força, entusiasmo e encanto o que lhe passava no fundo do coração nesse
momento, por divina revelação. Seu clamor nos ensina que, quando uma
realidade sobrenatural nos é descoberta, não podemos nos calar, sendo
nossa obrigação exteriorizar o júbilo que nos invade e tornar manifesto o
reconhecimento pela dádiva recebida. Se assim não procedermos,
incorreremos em omissão e nos tornaremos merecedores de uma repreensão
semelhante àquela feita aos fariseus inconformados com a glorificação do
Salvador: "Digo-vos: se estes se calarem, clamarão as pedras" (Lc 19,
40).
Nossa atenção é atraída aqui ainda por
outro pormenor de grande importância. Santa Isabel poderia ter formulado
a frase numa ordem diferente: "Bendito é o fruto do teu ventre e
bendita és tu entre as mulheres!"; mas, ao contrário, ela primeiro
elogiou Nossa Senhora. Agindo desta maneira, reconhecia que o melhor
modo de chegar a Deus é pela Virgem Santíssima. Quem está cheio do
Espírito Santo apreende com facilidade esta verdade, enquanto as almas
afastadas da luz divina mostram-se reticentes em relação à intercessão
de Maria, levantando objeções infundadas a respeito. Nessa passagem, o
próprio Espírito nos mostra que a forma mais rápida, segura e certeira
para chegar a Nosso Senhor Jesus Cristo é fazê-lo através de sua Mãe.
Humildade e alegria, sinais da presença de Deus
"Como
posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a
tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu
ventre".
"São João Batista e Santo Estêvão" (detalhe) Museu Nacional de Arte da Catalunha - Barcelona |
Santa Isabel prossegue seu elogio,
colocando-se numa postura de humildade. Não podemos nos esquecer de que
Nossa Senhora era ainda muito jovem - tinha por volta de quinze anos -,
enquanto a prima era uma anciã. Ao comprovar a superioridade da virginal
donzela, a esposa de Zacarias se submete comovida, e não duvida em
recebê-La com júbilo, embora se considerando indigna de semelhante
graça. Portanto, sua reação é análoga à de Maria diante do Anjo, quando
disse: "Eis aqui a escrava do Senhor" (Lc 1, 38). Pelo teor da
exclamação de Isabel podemos concluir que ela, por uma magnífica
iluminação interior, soube estar ali Aquela que gestava quem seu filho
apontaria, anunciando: "Eis o Cordeiro de Deus!" (Jo 1, 29). Assim, teve
conhecimento da Encarnação do Verbo antes mesmo de ser transmitida a
notícia a São José, como fruto, sem dúvida, de uma humildade que já lhe
habitava a alma desde muito tempo. Por aí podemos medir a importância e o
prêmio que nos espera se também nós reconhecermos nossa insuficiência.
Na nova referência ao salto de São João
Batista no ventre de Santa Isabel, a mãe caracteriza essa reação como um
estremecimento "de alegria". Quando recebemos a graça santificante, do
mesmo modo nos enchemos de júbilo e, se correspondemos a ela,
encontramos a verdadeira felicidade. No mundo existem alegrias aparentes
que trazem satisfações momentâneas, ao passo que a prática da virtude
nos proporciona um contentamento de fundo de alma que predispõe para
grandes atos de heroísmo e se prolongará por toda a eternidade. Este é
mais um alentador benefício da proximidade de Nossa Senhora - a Mãe da
divina graça -, a qual devemos procurar com todo empenho e ardor.
Sem fé não há bem-aventurança
"Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu".
É interessante analisarmos o elogio de
Isabel a Maria, ao reconhecê-La como "Aquela que acreditou". Vinha ela
padecendo havia seis meses as consequências da incredulidade de seu
esposo que, por duvidar do anúncio angélico sobre o nascimento de São
João Batista, ficara mudo. Assim, Isabel pôde meditar durante longo
tempo sobre a extraordinária importância da virtude da fé. E com isso
melhor admirar a virginal e inocente fé de Maria Santíssima, que, por
acreditar plenamente no Anjo, mereceu o prêmio: "Será cumprido o que o
Senhor Lhe prometeu".
Crer é seguir o exemplo de Nossa
Senhora, que não exigiu explicações nem procurou condicionar o anúncio
do Anjo àquilo que, segundo os seus critérios, poderia ser oportuno.
Pelo contrário, consentiu com docilidade em tudo o que São Gabriel
predisse, tornando claro que mais importante do que ser Mãe do Redentor -
de si mesma uma graça insuperável - é conformar-se por inteiro com os
desígnios de Deus.13 Nos futuros anos da vida pública de Jesus, quando
Lhe anunciarem a presença de sua Mãe, Ele responderá: "Minha mãe e meus
irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a observam" (Lc 8, 21);
e, mais adiante, ao ouvir um elogio feito a Nossa Senhora pelo dom da
maternidade divina, dirá ainda: "Antes, bem-aventurados os que ouvem a
Palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11, 28). Com tais afirmações, o
Mestre deixaria patente que prezava mais a fidelidade de Maria
Santíssima à sua Palavra do que o incomparável privilégio de gerá- -Lo
no tempo.
Virgem da Flor de Lis - Cripta da Catedral da Almudena, Madri |
III - As lições da Visitação
A Visitação, notável sobretudo por seu
sentido místico e simbólico, é um marco da Era Cristã em que se
manifestou a mentalidade de Maria Santíssima, toda feita de admiração,
humildade, despretensão, afeto, prontidão, serviço, obediência, alegria e
vida interior.
Se quisermos que nossa vida seja
pervadida por essa luz marial, peçamos a Ela que nos conceda a graça de
participar de sua fé, para discernirmos a atuação do Espírito Santo no
cotidiano de nossa existência. Não é necessário abandonarmos as
obrigações familiares, profissionais ou os deveres de estado inerentes à
vocação de cada um, pois é precisamente no exercício perfeito dessas
atividades que nos santificaremos. Tal como Santa Isabel, estejamos
atentos à presença de Maria.
Uma das mais belas lições da Liturgia do
4º Domingo do Advento, por certo, é a importância de sermos amados por
Maria Santíssima. Ela nos ama, não por algum merecimento nosso, pelo que
temos ou fazemos, mas porque somos filhos de Deus. O seu amor é
incondicional. Peçamos, assim, com fervor, nesta semana que antecede o
Natal, que Ela nos fale no fundo do coração e nos transforme, apesar de
todos os pesares, em entusiasmados arautos de Cristo em nossos dias.
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2012, n. 132, p. 10 à 17)
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