''Ecclesia facit saltus''

IHU - A comparação mais ousada foi com Pio X. O subtexto, nem tão implícito, de um congresso organizado no Vaticano em meados de junho, "Um papa reformador diante dos desafios do novo século", é que Giuseppe Melchiorre Sarto não era tão diferente de Jorge Mario Bergoglio.

A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada na revista Jesus, de julho de 2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

E, seguramente, as lendas obscuras são um pouco covardes.
E, certamente, o pontífice que passou para a história como o feroz inimigo do modernismo também era um pastor zeloso, reformou a Cúria depois de ter herdado de Leão XIII um assustador buraco no orçamento, também recusou a cruz de ouro e parece que não demonizava o tango. E, ainda, ele também era papa, ele também estava no Vaticano, ele também tinha dois braços... 

A comparação entre um papa e os seus antecessores é um gênero literário em seu próprio direito. Inevitável para uma instituição monocrática. Enfatizar as semelhanças ajuda a demonstrar que "ecclesia non facit saltus". 

Há quem ressalte as semelhanças entre Jorge Mario Bergoglio e Karol Wojtyla. Ambos verazes, ambos hostilizados pela Cúria. Mas o papa argentino a incita, a desmonta, a reforma; o polonês chegou a alguns pactos com ela e delegou a autogestão.

Francisco e Bento XVI, ao contrário, não poderiam ser mais diferentes, mas a eleição de um não teria ocorrido sem a renúncia do outro.

Com Paulo VI, os pontos em comum não faltam. Mas os defensores do paralelo com Montini parecem desejar ao pastor jesuíta o mesmo fim do intelectual de Bréscia, envolvido nas contradições de uma época complicada depois da lua de mel inicial.

Com João XXIII, as analogias são até demais. Bergoglio decidiu canonizar Roncalli sem milagre.

A beatificação de Pio XII, no entanto, está parada: "Ainda não há nenhum milagre e, se não há milagres, ela não pode seguir em frente". 

Conservadores ou reformistas, tímidos ou carismáticos, são todos papas, sim. Mas "ecclesia facit saltus", e como!