sexta-feira, 24 de julho de 2015

O pão deve ser partilhado

Por Dom José Alberto Moura*

O pouco, bem distribuído, dá mais efeito do que o muito mal repartido.

Com corruptores e corruptos não vamos ter progresso no crescimento da justiça e da paz social.


Um quarto da população mundial não tem o necessário para se alimentar. Muitos morrem de fome. Por outro lado, um terço da humanidade desperdiça alimentos. O desequilíbrio na distribuição de alimentos mostra a injustiça na convivência e na relação dos povos. Não é isso que Deus quer de nós. Ele nos deu o planeta terra para dela cuidarmos. O primeiro cuidado está nas relações humanas e no uso da natureza com amor a ela. Afinal, o Criador nos fez sua imagem e semelhança. Assim como Deus fez e cuida de tudo, nós fomos criados para cuidar do nosso pedaço com amor. Quem descuida e trata mal a natureza com tudo o que ela abarca e, de modo especial, o ser humano, imagem de Deus, receberá a paga do que faz. Por isso, a convivência com os pares deve fazer-nos muito cuidadores do semelhante. Quem tem mais liderança e é escolhido para tanto, tem de prestar contas do que faz com sua missão!
O pão deve ser partilhado. Quem tem mais é instado a dar mais. A concentração das riquezas e o fruto do desenvolvimento econômico, científico e cultural não podem acontecer de modo injusto, em que uns tenham demais e os outros de menos. Não se trata apenas de dar um prato de comida. Trata-se de dar muito mais, como a dignidade e a inclusão social de quem é deixado de lado do convívio justo. Não podemos apenas dar alguma coisa do que nos sobra. É preciso dar o que o outro precisa para viver dignamente. Para tanto, a boa política faz a grande diferença. Sabendo escolher quem tem grandeza de caráter, honestidade e qualidade para governar e legislar, teremos melhor condição de promovermos a justiça e a cidadania para todos. Com corruptores e corruptos não vamos ter progresso no crescimento da justiça e da paz social. Quem compra e quem vendo o voto estão prestando grande desserviço à sociedade e a si mesmo. A grandeza de uma pessoa não está no ter muito dinheiro, propriedade e fama por sua posição social avantajada e sim por sua grandeza de caráter e moral.
O pouco, bem distribuído, dá mais efeito do que o muito mal repartido. Na época de Eliseu, havia um pouco de comida e ele mandou que seu empregado a distribuísse para as pessoas necessitadas. O empregado falou que não daria para muita gente. O profeta disse: “Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará’” (2 Reis 4,43). De fato, o milagre aconteceu e todos os presentes comeram e ainda sobrou. Quando há partilha, o pouco de cada um fará a multiplicação. A solidariedade faz milagres. Faltando essa, mesmo com abundância de recursos, não somos capazes de dar a todos o que precisam para viver dignamente!
Jesus foi Mestre na multiplicação de alimentos para o povo. É verdade que Ele é o Filho, com poder divino de fazer milagres. No entanto, Ele mesmo disse que podemos fazer milagres maiores do que Ele fez. É verdade! Quando há amor, compaixão, bondade e coração humano, acontecem a solidariedade, a união de esforços e a promoção da boa política para fazermos com que hajam partilha, uso do dinheiro público para o serviço aos empobrecidos e a superação do roubo da coisa pública, com justiça aplicada e superação dos desvios de conduta. Assim, fazemos o pão ser multiplicado e colocaremos pessoas honestas para servirem o povo!


CNBB 22-07-2015

*Dom José Alberto Moura é arcebispo de Montes Claros (MG).

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