[unisinos]
"A doutrina oficial da Igreja e a prática da maioria dos seus
bispos (e muitos superiores religiosos) fazem exatamente o que as
pessoas jamais fariam às suas amadas plantas ou animais de estimação.
Eles nos colocaram em armários e fazem o possível para nos manter lá",
escreve Robert Mickens, editor-chefe da Global Pulse,
graduado em teologia, correspondente em Roma de diversas publicações
americanas, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 20-06-2016. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Eis o artigo.
Não, você não faria nada disso, porque as plantas e
os animais são seres vivos e são maravilhosos; e sua afeição a eles faz
com que você garanta que eles tenham todo o ar, sol e espaço necessário
para que permaneçam saudáveis e cresçam. Você faz tudo o possível para
apoiá-los e ajudá-los a florescer.
Essa mesma atitude é o que se espera da Igreja Católica
e seus pastores para com o seu povo. Os ensinamentos, diretrizes e
práticas pastorais da Igreja devem ajudar todas as pessoas a prosperar e
tornar-se autênticas.
Infelizmente, esse não é o caso para aqueles de nós que são gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros.
A doutrina oficial da Igreja e a prática da maioria dos seus bispos
(e muitos superiores religiosos) fazem exatamente o que as pessoas
jamais fariam às suas amadas plantas ou animais de estimação. Eles nos
colocaram em armários e fazem o possível para nos manter lá.
E fazem muito pior do que isso, como corajosamente apontou o Bispo Robert Lynch de São Petersburgo, na Flórida, recentemente.
"Infelizmente é a religião, incluindo a nossa, que ataca gays,
lésbicas e transexuais, principalmente verbalmente, e muitas vezes
também os despreza", disse ele em resposta ao massacre do dia 12 de junho que matou 49 pessoas em uma boate LGBT nas proximidades de Orlando.
Lynch foi um dos poucos bispos norte-americanos que
condenaram esse ato horrendo como um crime de ódio ou ato de terror
voltado especificamente à comunidade LGBT. Outros,
incluindo o presidente e outros oficiais da Conferência dos Bispos dos
EUA, ao que parece, nem mesmo reconheceram publicamente que os
assassinatos ocorreram em um estabelecimento voltado ao público gay.
Muitas pessoas já escreveram sobre o fato e ofereceram uma variedade de opiniões e análises. Nossos irmãos e irmãs no Ministério New Ways, particularmente, mais uma vez discutiram sobre a Igreja e sua relação com as pessoas LGBT.
Mas uma questão que ninguém parece discutir é o efeito da doutrina da Igreja sobre a homossexualidade
dos sacerdotes e bispos, tanto aqueles que se reconhecem como gays e os
que negam sua orientação. Na minha experiência, a maioria dos
sacerdotes, em ambas as categorias, é enrustida, de alguma forma. Muito
poucos se sentem suficientemente seguros ou confortáveis para admitir
abertamente que são gays, incluindo aqueles que são exemplos de vida
celibatária.
A homossexualidade enrustida
entre membros do clero - especialmente na hierarquia - é uma das
patologias mais graves que continua a impedir que os nossos ministros
ordenados sejam líderes proféticos.
Em certo sentido, estes irmãos e pais, na comunidade de fé, são as
primeiras e principais vítimas de um ensino deficiente e prejudicial do
qual eles devem ser professores e os porta-vozes autênticos.
Os leigos que se identificam com a comunidade LGBT
às vezes desaprovam ou ficam com raiva da Igreja e de seus ministros
sobre a questão da homossexualidade, mas cada vez mais nós nos recusamos
a ser mantidos no armário por termos permanecido católicos. Isso porque
a experiência tem nos ensinado que ficar escondido em um lugar escuro e
sem ar só leva ao adoecimento. O armário não é um local saudável -
social, psicológica, física e espiritualmente.
É surpreendente que os nossos padres que se reconhecem como gays
(mais uma vez, a maioria parece estar no armário) sejam tão eficazes
quanto eles. Talvez o seu sofrimento em silêncio tornou-os mais
compassivos com as feridas dos outros. Ou talvez seja porque eles tenham
abraçado o estereótipo do "gene gay", o que os torna mais sensíveis e disponíveis aos outros.
Estes padres homossexuais são verdadeiros heróis. Alguns curam apesar de estarem feridos. Alguns são defensores do sacerdócio celibatário
e o veem como uma vida dedicada aos outros sem reservas. Eles tropeçam
ao longo do caminho - alguns cultivando relações de compromisso, íntimas
(até mesmo sexuais); outros por encontrar uma intimidade que eles sabem
que não está em perfeita harmonia com os votos que fizeram.
Estes sacerdotes sofrem. Em primeiro lugar, porque são forçados a esconder a sua verdadeira identidade sexual.
E, segundo, porque têm vergonha de que outras pessoas homossexuais os
vejam como representantes de uma religião que discrimina a eles
próprios.
Alguns deles tomam coragem de sair. Outros, especialmente se não "se
apropriam" de sua identidade homossexual até muitos anos depois da
ordenação, ficam paralisados. Eles estão velhos demais para iniciar
qualquer atividade remunerada.
Independentemente do motivo, aqueles que permanecem no ministério
geralmente o fazem porque continuam a sentir-se chamados a servir ao
Povo de Deus, apesar do fato de que a doutrina oficial da Igreja lhes
diz que uma das partes constitutivas de sua identidade é um "transtorno
objetivo" e, pior, "é uma tendência mais ou menos forte direcionada a um
mal moral intrínseco."
Há uma outra categoria de "padres gays". São homens
de orientação homossexual, mas que se recusam a admiti-lo para si
mesmos. Desta forma, eles inadvertidamente projetam nos outros o
sofrimento e a patologia que não reconhecem em si, pregando
impiedosamente uma moral rígida e insistindo na adesão estrita a cada
lei eclesiástica, tornando-se extremamente fechados. Então muitos deles
tendem a encontrar a sua identidade no tradicionalismo da Igreja.
Nós, gays e lésbicas católicos (e católicos do Vaticano II,
também) várias vezes zombamos deles. Mas estamos errados. Estes homens
são mais dignos de pena do que de desdém. Eles - talvez mais do que
todos os outros - também são vítimas da homofobia
sancionada pela Igreja, porque, ao aceitar rigidamente e pregar cada
vírgula da doutrina católica, eles não têm qualquer oportunidade de
reconhecer e aceitar a sua verdadeira identidade sexual.
O ensinamento mais atual do Vaticano a respeito de homossexualidade vem do pontificado de João Paulo II. Foi redigido pelo então cardeal Joseph Ratzinger e seus assessores na Congregação para a Doutrina da Fé.
E um dos principais resultados práticos é que os católicos LGBT devem manter sua homossexualidade escondida.
"Via de regra, a maioria das pessoas de orientação homossexual que
procuram levar uma vida casta não divulga sua orientação sexual", diz
uma carta que o escritório de Ratzinger emitiu em 1993 sobre propostas de lei contra a discriminação LGBT.
Esse documento constata com satisfação que "o problema da
discriminação em matéria de emprego, habitação, etc., normalmente não
ocorre" quando os homossexuais são enrustidos.
Mas o ensinamento do Vaticano sobre homossexualidade é ainda mais
insensível - na verdade, cínico - a respeito da admissão de homens gays
nos seminários católicos. O documento foi emitido pela Congregação para a
Educação em novembro de 2005, apenas seis meses após Ratzinger ter se tornado papa. Um dos seus principais autores é um padre-psicólogo de Paris, Mons. Tony Anatrella, que foi acusado de abusar sexualmente de seminaristas que eram seus pacientes.
A "instrução" basicamente impõe uma "política do não-dito" a
possíveis candidatos ao seminário. Isso porque qualquer um que afirme
ser gay não deve ser admitido em programas de formação sacerdotal, mesmo
que expresse o desejo de viver o celibato casto.
O efeito da instrução tem sido levar seminaristas e sacerdotes -
assim como bispos - ainda mais para dentro do armário. As declarações de
muitos bispos após o ataque na boate LGBT em Orlando atestam claramente que eles temem até mesmo mencionar as pessoas homossexuais.
Se os bispos realmente amassem seus padres homossexuais e pessoas LGBT,
eles abririam as portas do armário e deixariam entrar luz e ar fresco,
tão necessários à sobrevivência. Eles certamente fariam pelo menos isso
com seus animais e suas plantas.
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jbpsverdade: A verdadeira Igreja de Cristo jamais irá compactuar com o pecado, ainda mais quando é algo que Deus abomina. Se o pecador quer fazer parte da Igreja, é preciso ter no coração o desejo do arrependimento, e aí ouvirá de Cristo... "Vá em paz e não tornes a pecar". Sendo a Igreja o Reino de Deus aqui na terra, a Palavra de Deus diz o seguinte: Acaso não sabeis que os injustos não hão
de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os
idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus. Ao
menos alguns de vós têm sido isso. Mas fostes lavados, mas fostes
santificados, mas fostes justificados, em nome do Senhor Jesus Cristo e
pelo Espírito de nosso Deus. (I Cor 5, 9-11)
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