quinta-feira, 20 de julho de 2017

Gênero e Cristianismo: "Acolher, acompanhar, estudar, discernir e integrar"

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Por Élio Gasda*

Classificar as "teorias de gênero" como "ideologia" já é uma postura ideológica.


A violência de gênero, o machismo e a discriminação por razões de sexo não são invenção ideológica. Elas existem. (Rovena Rosa/Agência Brasil)  

“Família e Direitos: nossa existência é singular, nossa resistência é plural”. Em torno desse tema a 20ª Parada do Orgulho LGBT reuniu mais de 80 mil pessoas no último domingo em Belo Horizonte. “Crimes contra raça, religião, gênero, sexo, orientação sexual e prática de discriminação resulta, meu bem, em crime”, declarou uma das madrinhas do evento.
A diversidade tem as cores da alegria. Mas a realidade é dura! Existe um padrão de violência dirigido a muitas pessoas em razão da sua identidade de gênero. O Brasil ocupa a 5ª posição no ranking de assassinato de mulheres. Misoginia, Feminicídio, homolesbofobia e transfobia andam juntas. A afinidade com o gênero feminino é o pretexto para o assassinato de homossexuais, transexuais e travestis.  
Gênero é distinto de sexo biológico e de orientação sexual. Sexo refere-se à diferença biológica entre homem e mulher. Orientação indica por quais gêneros a pessoa sente-se atraída. Gênero remete à construção cultural dos atributos de masculinidade e feminilidade gerados pelas instituições, organizações e práticas sociais cotidianas. A identidade de gênero se constrói sobre os padrões que uma sociedade impõe aos sujeitos, define comportamentos, roupas e códigos morais. Trata-se de um conceito fundamental para romper moralismos ultrapassados e questionar a dinâmica das práticas geradoras de desigualdade.
“Não se nasce mulher, torna-se mulher” (Simone de Beauvoir). Gênero é uma categoria das ciências humanas que analisa a construção sociocultural das relações sociais entre os sexos. São estudos que transitam por um conjunto de explicações sobre o que é ser masculino e feminino. É um dos princípios de organização social, política, religiosa e econômica que está na raiz de muitas situações de violência. Todo sistema patriarcal é construído com base na ideologia da superioridade masculina.
A perspectiva de gênero oferece elementos para o reconhecimento da cidadania eclesial e social dos LGBT. A irrupção de cristãos LGBT nas comunidades leva a reavaliar a moral católica tradicional e influencia o pensamento teológico. Da experiência de sujeitos discriminados por sua identidade sexual irrompeu uma teologia da libertação gay centrada na mensagem de Jesus, acentuando a perspectiva relacional fundada no amor cristão.
Teorias e práticas são tributárias da cultura. A Igreja está impregnada do imaginário da cultura ocidental. Seu discurso também está permeado de ideologia. Classificar as “teorias de gênero” como “ideologia” é um reflexo deste influxo. Autoridades eclesiásticas não conseguem reconhecer que existe uma questão de gênero. Ao buscar desordens objetivas intrínsecas nesta categoria científica, estão fechados ao diálogo sincero e respeitoso com a sociedade. A repetição estéril de alguns movimentos religiosos e seus líderes contra a “ideologia de gênero” é fruto de sua própria ideologia patriarcal que não entende que gênero não se opõe a Evangelho. Para pensar as questões de fronteira é preciso desprover-se de preconceitos. A Igreja deveria encorajar os cristãos no debate sobre as raízes das desigualdades que envergonham o Brasil. A violência de gênero, o machismo e a discriminação por razões de sexo não são invenção ideológica. Elas existem. Inclusive no interior da Igreja.
Open your mind! A luta pelo reconhecimento da identidade de gênero começa dentro de casa, continua na escola e, para os católicos, também na Igreja. O Cristianismo tem elementos valiosos para contribuir na superação da retórica da desigualdade. “Deus não é de modo algum à imagem do homem. Deus é puro espírito, não havendo nele lugar para a diferença dos sexos” (Catecismo, §370). Toda pessoa batizada partilha por inteiro do Sacerdócio, Majestade e Missão Profética de Cristo. O Batismo destrói honrarias e hierarquias determinadas pelo gênero. O conceito não elimina as diferenças biológicas, mas visa erradicar as desigualdades ajudando a construir um mundo em que as pessoas vivam sua própria identidade em relações de irmandade. Neste sentido, Papa Francisco esclarece qual deve ser a atitude da Igreja para com as pessoas transexuais: “Acolher, acompanhar, estudar, discernir e integrar. Isto é o que faria Jesus hoje” (coletiva de imprensa: 02/10/2016).
Deus Trindade ama a diversidade. “Já não há mais o homem e a mulher” (Gl 3,28). A busca pela igualdade de gênero é uma questão de justiça, é mais um passo na luta pelos direitos humanos e contribui na vivência do Evangelho. O valor da pessoa humana não vem do sistema de normas culturais, morais ou religiosas. Deus infere a cada um a mesma e inalienável dignidade, sua própria imagem e semelhança e o torna destinatário da Graça. Portanto, “cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar qualquer sinal de discriminação e, particularmente, toda a forma de agressão e violência” (Amoris Laetitia, 250). “Inútil querer me classificar, eu simplesmente escapulo não deixando” (Clarice Lispector). 
 
*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). 
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jbpsverdade: Veja como fazem de tudo para distorcer a Palavra de Deus... Deus Trindade ama a diversidade. “Já não há mais o homem e a mulher” (Gl 3,28), quando na realidade o certo é... "Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus." Aqui o autor da carta (Paulo), fala que não há mais divisão de povos, todos somos um só com Cristo!

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